Uma reflexão sobre a mania brasileira de supervalorizar o que vem de fora e deixar o ouro do país de lado…
Bom, gente. Sei que muita gente aqui no Brasil tem o sonho de estudar ou trabalhar lá fora, se aperfeiçoar no exterior. Concordo com todos vocês, afinal eu também gostaria de estudar na Visual School of Arts ou fazer um curso prestigiado no Royal College. Ou qual desenvolvedor não gostaria de trabalhar na Google?
Pois bem, não estou aqui para acabar com os seus sonhos ( nem com os meus!), mas só quero ser a sua consciência racional. O grilo falante do Pinóquio.
Bom, como boa nascida no Brasil, sempre notei a veneração do brasileiro em geral pelos países desenvolvidos, como Estados Unidos ou certos países da Europa. Acho saudável que os profissionais se espelhem no que tem de bom lá e utilizem isso no seu dia a dia. Mas, o que costuma acontecer que acho bem maléfico, é a supervalorização da competência internacional e o desprezo do material nacional. Uma coisa é você ir estudar ou trabalhar lá fora para se aperfeiçoar, outra coisa é você julgar que tudo que vem de fora é melhor, ou que o mercado de trabalho internacional é sempre lindo e maravilhoso, e que fazer freela pra gringo é estar livre de calotes e plágios.
Essa xenofobia às avessas só se confirma quando vemos empresas nacionais mandarem seus briefings para agências estrangeiras criarem suas marcas, por exemplo, e enchem a boca para dizer que seu branding foi made in USA. Cara, quer mandar para uma empresa boladona lá de fora? Beleza. Mas mandar para qualquer uma estrangeira e encher a boca por causa disso acho feio, muito feio. Ilusão.
Temos agências excelentes aqui no Brasil, e mundialmente reconhecidas. Por que não valorizar os profissionais nacionais? Se isso não acontece por aqui, claro que mais e mais a galera vai buscar oportunidades lá fora, trabalhar em uma das agências que fez a marca da sua empresa brasileira e aí finalmente ser reconhecido. É uma regra de três.
Outra ilusão é a galera que acha que freela gringo é o reino das maravilhas. Não estou dizendo que seja ruim, é ótimo. Meu portfolio é em inglês pra facilitar a divulgação no mercado internacional, claro ( quem não quer, né? ). Mas só alerto para o seguinte: o mesmo cuidado que você toma aqui, tome lá. Faça seu briefing detalhado, escreva seus tópicos sobre alterações, divulgação, preços. Mantenha suas conversas armazenadas na caixa de email. Concorrências com envio prévio de design, começar seu trabalho sem garantia nenhuma de pagamento…. É sinal de furada até em Marte. Open your eyes, broda.
E considere que você vai precisar conversar em outro idioma, provavelmente fazer chat em horários nada usuais por conta do fuso, criar uma conta internacional para receber seus pagamentos, ou usar o Paypal, que é uma ótima, mas ele sempre desconta uma porcentagem pelos serviços prestados. Claro que isso não é empecilho pra recusar freela gringo, né? Mas só pense nisso. Não pegue o preço que você cobraria aqui, divida por 1,80, o valor do dólar, e mande esse orçamento pro cliente achando que vai tudo ser aprovado de primeira, que ninguém vai te pedir alteração e que depois deste freela você vai ser chamado para ser o ilustrador oficial da Nike.
Outro detalhe, não considere o seu cliente, ou o público que você precisa alcançar burro por ser brasileiro. Gente, isso é um absurdo. Já ouvi que usuário brasileiro é burro e não concordo em nada com isso. Usuário leigo existe no Brasil, no Egito, na Espanha e até no Japão, o país digital. Os públicos são diferentes em qualquer lugar do mundo e sempre vai ter a galera que não sabe nem o que um browser até o povo que já te hackeou no primeiro papo no Messenger.
Esse blá blá todo foi para defender o equilíbrio.
Todo mundo quer ser reconhecido internacionalmente, todo mundo quer trabalhos No exterior ou Do exterior. Fale outros idiomas, permita que seu portfo seja visto e entendido aí fora, mas não menospreze o seu país. Você vive num país em desenvolvimento e outros países já são considerados desenvolvidos, ok. A tecnologia é melhor? Tem mais recursos? Mais dinheiro? Talvez. Mas você é humano como o outro cara que está na Ásia ou na Europa e ninguém nasce desenvolvido por nascer em país rico. Todos estamos em desenvolvimento, sempre. Valorize seu potencial e represente bem o seu país. Só não caia nas armadilhas dos pensamentos antiquados e preconceituosos.
Bom, e isso não é um discurso político.
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