Uma técnica de desenho e pintura que está muito mais perto do que você imagina. Inclusive presente na publicidade.
Existem algum recursos visuais que são muito comuns, mas possuem nomes complicados. Um deles é o Bokeh, um efeito de fotografia super utilizado, mas que tem esse nome esquisito. Você pode saber mais sobre ele neste post.
Outro recurso, usado tanto em desenho quanto em fotografia é o escorço. Resumidamente ele é uma ilusão gerada pelo ângulo da imagem, que faz com que o primeiro plano de um objeto pareça mais curto do que realmente é. Resumindo, é o seguinte: para representar o corpo humano, quando alguns membros estão em um plano mais próximo do que outros, é preciso reduzir as distâncias reais entre as linhas, para que o desenho seja entendido como não distorcido, apesar de ser desenhado mais curto.
Neste artigo sobre o tema, tem uma citação muito interessante, retirada de uma tese de mestrado, criada por Cecília Prestelo de Melo para a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (olá, amigos lusitanos!), que explica bastante:
Ao desenhar a partir de um modelo, o artista sente curiosidade pelas diversas formas que o corpo nos apresenta consoante as mais variadas posições que este possa assumir. Como consequência, algumas das posições surgem como que de “topo” (ou em profundidade), onde alguns dos seus membros se apresentam muito próximos do observador. Sempre que isto acontece, surge o problema da representação em escorço, que consiste na representação do corpo humano, visto de um ponto de vista que não seja nem de frente nem de perfil.
E ainda:
… Assim, o artista deve ter boas noções de perspectiva e da disposição de uma forma tridimensional no espaço. Deste modo, torna-se relativamente mais fácil representar a complexidade do corpo humano em profundidade. Contudo, apesar de as noções de perspectiva servirem como uma valiosa ajuda na representação de um corpo numa vista de topo, deve-se também ter em conta que a perspectiva linear pode conferir também alguns problemas na representação de um corpo humano, na medida que esta se baseia num trabalho a partir de linhas rectas, e a superfície de um corpo é tudo menos linear, sendo por isto, de utilidade limitada.
Para desenhar o corpo humano, além de saber sobre regras de perspectiva linear para a simulação tridimensional em um desenho, o artista deve ter um conhecimento além, pois o corpo humano é muito mais sinuoso do que qualquer cenário “concreto”.
O mais legal disso tudo, é que, como o escorço é um recurso de distorção para a representação do real, existe sim a possibilidade de não ser tão fiel assim à realidade nos traços e, ainda assim, parecer realista.
Um pouquinho de história
Foi no Renascimento que a arte começou a seguir um viés de representação mais ousada da realidade. Até então, as figuras humanas geralmente eram desenhadas em perspectivas mais bidimensionais, como frontais ou de perfil. Se você der uma olhadinha nos desenhos egípcios ou na arte medieval você vai entender.
Mas no Renascimento, a neurose da galera em fazer a arte mais realista possível era tão grande que o pessoal fazia até mesmo dissecação de cadáveres. Leonardo da Vinci, por sua vez, era um super estudioso da anatomia humana. Era a partir do conhecimento adquirido com a observação que ele partia para a criação. Uma lição de Leo para os estudantes era a seguinte (fonte: o mestrado da Cecília, citado acima):
“…o jovem deveria aprender primeiro a perspectiva, depois das proporções dos objetos. A continuação, copiar a maneira de um bom mestre, para adquirir o hábito de desenhar bem as partes do corpo humano, e depois desenhar ao natural para confirmar as lições aprendidas”.
Daí em diante, levanta-se uma questão na história da arte, que é a proporcionalidade na representação anatômica. Alguns se baseiam nos estudos vitruvianos do corpo nu, com técnicas e medidas certinhas. Porém, na representação tridimensional em escorço, a proporção é variável. Por serem perspectivas muito diferentes de um plano frontal, a noção da realidade vai se basear mesmo em comparação e dedução.
Ou seja, não tem receita pronta.
Exemplos na publicidade
O escorço não parou de ser representado do Renascimento ou na pintura. Pelo contrário, a publicidade atual e a fotografia muito se utiliza dele para criar destaque e dinamismo. Veja algumas peças para você entender como ele pode ser aplicado:
Agora você pode aumentar o seu vocabulário e impressionar nos seus layouts.
Comments (3)
Raul Belúciosays:
16 de dezembro de 2017 at 10:07Oi letícia! parabéns pelo artigo. obrigado! aprendi muito. No entanto, acredito que a obra que vc apresenta como de caravaggio seja do carracci… https://it.wikipedia.org/wiki/Cristo_morto_e_strumenti_della_Passione… dois exemplos legais do caravaggio podem ser encontrados aqui… https://br.pinterest.com/pin/307089268315277551/?autologin=true
abração!
Letícia Mottasays:
19 de dezembro de 2017 at 19:23Oi Raul. Obrigada pela correção. É sempre bom saber que os leitores do Cutedropsão cultos e inteligentes. Já corrigi o post. Vamos trocando aprendizado! Abraços,
Raul Belúciosays:
20 de dezembro de 2017 at 17:22Eu que agradeço! A sua referência a dissertação da cecília me ajudou pra caramba! 😉