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A brasileira que transformou o muro de Berlim em material para suas ilustrações

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Quando a arte tem a capacidade de transformar limão em limonada.

Se você estudou um pouco de história mundial, sabe que o muro de Berlim foi um divisor entre dois lados de uma só nação por motivos ideológicos e políticos. Felizmente, ele foi derrubado em 1989. Mas algumas partes dessa construção ficaram, para que a história não seja esquecida, como os alemães sabem fazer muito bem. Uma dessas partes fica no Mauer Park, no bairro de Prenzlauerberg. Por décadas, grafiteiros pintaram e repintaram essas paredes tentando transformar algo intrinsecamente horrível em beleza.

De tempos em tempos, as camadas de tinta começam a pesar e despencam, como uma capa, cansada de se sustentar. As lascas, cheias de história, também carregam uma infinidade de cores e texturas. Cada pedaço é único.

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A ilustradora Ligia Fascioni, brasileira e moradora da cidade de Berlim desde 2011, não deixou passar batido esse pedaço de história. Ligia fotografa as paisagens do cotidiano da capital alemã todos os dias. Atraída pela riqueza visual, começou a fotografar esses pequenos pedaços de muro e usar as fotografias como background para seus desenhos. São recortes e colagens digitais contrastando a brutalidade do conceito que o muro transmite com a representação de traços femininos e a delicadeza dos animais.

A ideia é tão legal que o Cutedrop resolveu fazer um #cutetalk com ela, pra entender melhor o projeto e pegar algumas dicas. Confira:

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1 – O fato de vc usar um material que já fez parte de um ícone da história alemã influencia na temática dos seus desenhos?

Mais ou menos. Eu sempre gostei de desenhar mulheres, faço isso desde que me conheço por gente. Mas o fato do material vir de um objeto com uma história tão triste, bruta e horrível, é de certa maneira uma provocação para eu me esmerar em produzir o exato oposto disso: beleza, delicadeza, amor. Sem dizer que Berlim me influencia em tudo: amo essa cidade do fundo do meu coração; achei meu lugar no mundo.

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2 – Como se deu a escolha do muro de Berlim como suporte pro seu projeto? Foi por acaso ou já teve alguma intenção de relembrar a história e fazer disso um ponto positivo na sua arte?
Foi por acaso. Eu exploro todos os arredores e fotografo o dia-a-dia da cidade desde que cheguei aqui (lá se vão 6 anos e ainda não parei de me deslumbrar). Numa dessas incursões, estava visitando o Mauer Park quando notei que havia partes do muro se desprendendo pelo peso das camadas de tinta. Comecei a olhar mais de perto e fiquei fascinada. Minha primeira reação foi apenas fotografar, mas aquilo era tão belo que pensei num jeito de dar mais visibilidade a essa maravilha que só a arte consegue produzir: transformar algo horrível em poesia, que é o que os grafiteiros que estão sempre inserindo novas camadas de tinta naquele muro, fazem com maestria. Só adicionei a minha camada virtual ao trabalho deles.

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3 – Quais as técnicas que você usa pras suas ilustrações, além das fotos das lascas?
Eu desenho no iPad (usei o Sketchbook por muito tempo, mas agora uso o app Procreate) usando sempre um fundo transparente. Aí vou para o computador e mesclo o desenho com recortes das fotos. Uso o Pixelmator nessa etapa.

Veja o processo de criação:

4 – Você pretende levar seu projeto para outros países, usando outros muros e suportes como inspiração?
Não sei, se surgir oportunidade, com certeza. Mas penso que Berlim é uma cidade única no mundo, tanto por sua história, como por suas características. Na verdade, meu próximo projeto é usar os cartazes de lambe-lambe rasgados (eles formam camadas e despencam igualzinho aos grafites do muro) como fundo para meus desenhos. Já estou colecionando fotos (é preciso muitas delas para que alguma se encaixe no que quero e para não ficar repetitivo).

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Para ver outros trabalhos e saber mais um pouco, visite o portfolio de Ligia e seu perfil no Instagram.

Agora, se a sua praia é deixar paredes bem coloridas, com decalques e adesivos, pode ser interessante dar uma olhada aqui.

 

Letícia Motta

Designer gráfico com experiência no mercado há mais de 15 anos, atua nas áreas de design gráfico, digital design e direção de arte. Bacharel em Design, com extensão em Coolhunting e MBA em marketing digital. Fundadora do estúdio leticiamotta.com.

Comments (2)

  • Ênio Padilhasays:

    13 de novembro de 2017 at 7:33

    Lígia Fascioni é um orgulho para o Brasil e uma alegria para os que, como eu, temos a felicidade de tê-la no time de amigos.
    Parabéns pela matéria. Ficou muito bonita e bem completa.

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