Não, não é um tutorial gráfico de Photoshop ou Illustrator pra você fazer um logo cheio de reflexos e efeitos 3D. Isso é um post para lembrar que existem processos antes de meter a mão na tablet pra desenhar. Aliás, são estes processos que vão te ajudar a chegar a uma conclusão sobre o conceito da marca. O que ela precisa representar, o que ela vai, ou não, significar. Além de garantir que não existem outros 9.999.999 designers que já criaram a mesma coisa que você.
O briefing
Ok, você recebeu a missão de criar uma identidade visual. Que irado, várias ideias brotaram na sua mente, você vai pro livro Los Logos ano que vem com suas genialidades, e uau e #NOT. Não adianta você comunicar algo que eu não é o que a empresa quer mostrar. Li em um livrinho dia desses que Comunicação não é o que eu falo, mas o que você entende. Isto também serve para nós, designers. Afinal você não vai estar ao lado de cada um que passar ao lado da sua marca pra defender a sua ideia, né?
Então, antes de tudo, faça um briefing. Conheça a empresa, veja quanto tempo ela tem de mercado, qual a classe social predominante de clientes (A, B, C, D), que tipo de produtos saem mais, se é uma empresa tradicional, moderna, se o público é muito específico ou engloba uma grande parcela da sociedade etc. Não seja tímido e pergunte.
Além de conhecer a empresa, pesquise sobre os produtos ou serviços que ela oferece. Se é uma empresa que vende cadeiras de rodas, por exemplo, entenda como as cadeiras de roda funcionam, quais os modelos, pra que fim se destina cada modelo. Não vai dar para virar um expert em cadeiras de rodas, mas pesquise o essencial para você se sentir confortável sobre o assunto. Assim você pode passar para a fase 2: referências.
Referências e significados
Depois que você está com o seu briefing bem escrito, ansioso para layoutar logo a droga da identidade, você vai pesquisar referências visuais. Aliás, não só referências como significados.
Para isso, indico um livro que titio mandou comprar no primeiro período da faculdade, o “Dicionário de Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant”. Este livro tem significados culturais associados a vários símbolos. Isso evita que você cometa gafes como escolher uma cor que para nós representa felicidade e para outra cultura, fracasso.
Pesquise também significados das cores, e busque referências.
Certa vez, pesquisando sobre imagens associadas aos conceitos de infinito, perfeição e equilíbrio, eis que me deparo com milhões de símbolos matemáticos do infinito ∞, claro, e milhões de flores de Lótus. Não dá pra criar mais um símbolo desses, né?
Depois de pesquisa feita, salve suas referências e elabore uma apresentação legal para defender a sua ideia final para o cliente.
Ideias no papel
Agora você deve ter ficado com umas 2 ou 3 ideias na cabeça, e uma falando mais alto, provavelmente. Pegue um papel e um lápis ( ESQUECE O COMPUTADOR POR ENQUANTO ) e comece a rabiscar. Pense mais nas formas do que nas cores. Afinal um bom logo precisa ser reconhecido quando aplicado em relevo sobre um papel, numa xerox em preto e branco, numa serigrafia na parede. Trocando em miúdos, comece pensando no logo monocromático. Claro que atualmente, as marcas costumam ter uma “versão digital”, com suas firulas internéticas, mas a mesma marca, se colocada em preto sobre o branco precisa ter sua forma bem pregnante.
Repare nesta coleção de logos vintage, da época em que não existia o Photoshop e “Bevel and Emboss” (aarrrghh), e veja como a forma é importante. Mestres do design de IDs (identidades) pensavam / pensam assim, como Alexandre Wollner e Aloísio Magalhães.
Compre uma folhinhas milimetradas e papel vegetal e mande ver no old style.
Finalize a arte
Pelo título não preciso dizer muita coisa. Escaneie suas 2 ou 3 opções finais de marca, e vetorize. Mas vetoriza direitinho, não vai fazer que nem a mão do logo da Copa de 2014 não, hein?
Pense na paleta de cores, e pense em CMYK, afinal se você fechou a marca com o cliente, você deve ter fechado também o PIV (Programa de Identidade Visual) completo, que inclui papelaria também. Se você realizou o passo-a-passo direitinho, você já deve ter algumas cores que tem relação com o conceito da sua marca em mente.
Se você utilizar preto, verifique se o CMYK é C 0 M 0 Y0 K 100, para evitar pontinhos desfocados na impressão offset por causa da mistura de todas as cores. Verifique também se na escolha de qualquer cor, os valores de CMYK são inteiros, como 100, 95, 90 e não 98, 92, 87. Afinal para a impressora offset conseguir um tom que é 81% magenta, é mais fácil você colocar logo que é 80%.
Apresente ao cliente
Marque aquela reunião legal, leve seu MacBook Pro (ok, menos, eu também não tenho um), limpe seus óculos e voilá. Com aquela apresentação em pdf, pelo menos (morte ao Power Point) você vai mostrar a sua pesquisa, suas referências, conceitos e ideias finais. Mentalize bastante a solução que você mais gostou, talvez dê certo na hora do cliente escolher.
Frise bem que cada marca possui seu conceito, diferentes, e que não tem como misturar as duas marcas (bom já deixar avisado).
Marca escolhida, aprovada. Pronto. Pague um almoço pros seus amigos e me chame.
Comments (6)
Fêsays:
19 de agosto de 2010 at 19:32Lets,o post tá ótimo 🙂 simples e direto. Pena que na maior parte das vezes as empresas estão com tanta pressa em entregar pro cliente que pulam algumas partes desse processo né?
Letícia Mottasays:
19 de agosto de 2010 at 20:26Verdade, Fê. Mas pra quem está de freela, ou autônomo mesmo e dá a sorte de encontrar um cliente que pensa na sua marca com carinho, vale a pena. Podiam ser todos, né? ai ai… 🙂
Alessandrasays:
20 de agosto de 2010 at 9:40Muito bom o post 🙂 Gosto muito do seu trabalho.
Letícia Mottasays:
20 de agosto de 2010 at 9:46Brigada, Alê. Bjinhos. 😉
Eudes Stocklersays:
24 de agosto de 2010 at 11:08Muito bom o post! parabéns
Eudes Jr. Stockler – Blog
Letícia Mottasays:
24 de agosto de 2010 at 11:50Obrigada. Em breve posto mais making ofs. 😉 Abçs.