Criar uma arte para ilustrar a capa de um álbum vai muito além do que tirar uma foto bonita do rosto do artista, mandar um efeito no Photoshop e escrever o nome com uma fonte legal. A arte de uma capa deve ser a representação visual daquilo que nos espera nas faixas do álbum.
Representar uma identidade musical visualmente na capa de um CD, DVD, BluRay ou qualquer outro material está altamente ligado com a abstração e com a intimidade do designer com a música. A visão e a audição estão mais unidas do que você imagina.
Quer um exemplo?
Um professor falou em uma das aulas que tive na faculdade:
Imagine uma nuvem fofinha e uma forma cheia de pontas, como uma mamona. Agora me diga qual delas se associa melhor com os sons das palavras “taquete”e “maluma”?
Cem por cento da turma apontou que a nuvem deveria ficar com a palavra “maluma”, que soava mais redonda e macia do que “taquete”. Isso, por mais descontextualizado que pareça, prova que sons e formas estão ligados de alguma maneira.
Não podemos ignorar isso na hora de encontrar um resultado visual para um álbum, que expresse a essência da música como uma identidade.
Tudo bem que nos tempos atuais o download de músicas tenha tirado um pouco do encanto único de se criar “a capa” ( digo “encanto único” porque acho que hoje temos outros inúmeros meios de experiência visual com a música, como os próprios sites), mas quantas vezes não somos influenciados a comprar um CD por conta do seu encarte?
Dá uma olhada nestes exemplos, que vão dos mais clássicos aos mais atuais, de artes de álbuns bem pensadas e executadas, que são realmente identidades visuais das músicas e do estilo de cada banda ou artista:
Dangerous. Michael Jackson
O álbum Dangerous do Michael (1991) possui um clima de mistério, de tensão e dinamismo. Você pode notar isso nas músicas Dangerous, Who is it e Remember the Time, que têm um quê de oculto. E vamos combinar que criar uma capa clean para MJ, que exalava excentricidade, seria um pecado.
Na época, o artista contratado por Michael foi Mark Ryden, ilustrador inspirado pelo ambiente fantástico, surrealismo e fortes simbologias.
O processo de trabalho de Mark se baseava em ouvir as faixas do álbum de Michael à medida que elas terminavam de ser gravadas, além de ser influenciado pelos títulos das mesmas. O título do álbum, “Dangerous”, foi o principal ponto de partida para o desenho.
A arte da capa está cheia de significados e simbologias, mas sobre isso teria que ser feito um post exclusivo!
Nevermind. Nirvana
Com uma foto, uma nota e um bebê esta capa de 1991 também representa um trabalho bem pensado.
Eleita em primeiro lugar entre as 50 melhores capas de discos da história pelo site Gigwise pela sua simplicidade e objetividade, a capa mostra como a sociedade capitalista pode corromper até mesmo um bebê.
A foto foi produzida de verdade (não é montagem) e a ideia de acrescentar a nota de dólar veio de Kurt Cobain.
A relação com as músicas não é tão complexa como no álbum de Michael, mas a intenção da capa foi criticar o materialismo e o capitalismo com uma imagem. A famosa máxima de “uma imagem fala mais do que mil palavras” fez todo o sentido aqui.
E há de se considerar que a crítica e o pessimismo estão presentes em praticamente todas as músicas de Nevermind. Seria de se espantar que a capa tivesse um conceito diferente.
Any minute now. Soulwax
Ok, parece uma textura de pontinhos sem graça. Mas chega sua cadeira pra trás e aperta um pouquinho os olhos que você vai conseguir ler o nome da banda e do álbum de 2004. Legal, né?
A ideia de ilusão de óptica segue por dentro de todo o encarte. Criativo trabalho de Trevor Jackson.
Under the Iron Sea. Keane
A arte da capa deste álbum de 2006 do Keane é da ilustradora finlandesa Sanna Annukka. Interessante ressaltar que a arte ocupa todo o encarte, de cima a baixo, formando uma imagem única, vertical, linda!
Fora que os trabalhos desta ilustradora são maravilhosos, cheios de referências folclóricas e cores sólidas.
Não dá vontade de comprar este CD?
Day and Age. The Killers
Álbum de 2008 da banda de rock alternativo. A arte toda do álbum foi criada pelo ilustrador Paul Normansell. Como ele mesmo cita:
“A base do meu trabalho é originada através do relacionamento entre arte e música.”
Death Magnetic. Metallica
A criatividade no álbum de 2008 do Metallica está no detalhe de a sepultura ser realmente um buraco. Em todas as páginas do encarte está lá, a faca da sepultura te acompanhando, como um íma. É de extrema sincronia com o título do álbum. Bom, e com o estilo musical da banda então, sem comentários…
Dark Is the Way, Light Is a Place. Anberlin
O baterista da banda, Nate Young descreve a capa como “um desenho feito à mão, em carvão, que encaixa perfeitamente com o clima das músicas”. A arte é de Michael Zavros, um dos maiores ícones jovens da pintura realista na Austrália. O álbum é de 2010.
Fica a dica da listinha de referências no caso de algum cliente seu pedir uma capa com uma foto dele bem bonita com o prazo de 1 dia pra fazer a arte. Manda o post pra ele!
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