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Buquê de rosas para workaholics

workaholic ilustração

Se você bate no peito para dizer que não tem tempo para a família, que sua vida é o seu trabalho e que morreria se ficasse um dia sem seu computador, precisa rever seus conceitos e entender sua relação com o trabalho um pouco mais como um relacionamento amoroso.

Este post é para compartilhar algo que se aprende com o tempo, uma experiência pessoal mesmo. Tenho visto que muita gente tem prejudicado sua saúde (infelizmente com orgulho) para provar que tem trabalhado muito. Sinceramente, não acho isso muito certo. Vamos por etapas, comparando com uma relação conjugal, para você entender o que quero dizer.

paixao Bernadette Wolowitz

A paixão

Quando você é apresentado à atividade que você sempre sonhou exercer durante toda a sua vida, você pensa nela durante 24 horas do seu dia. No caso do Design, você quer transformar o mundo num catálogo de logos bem feitos, a tipografia das plaquinhas da feira em Helvetica e quer entender porque alguém quer investir grana numa moto mas não investe num site pra entrar para o FWA. É como a paixão obsessiva por alguém, que você vê o rosto em cada pessoa na rua, sonha acordado e aguarda ansiosamente por uma ligação.

Nessa fase, perdemos naturalmente o sono, queremos montar portfolio, fazemos jobs “propostas” e investimos alguns fins de semana para aprender softwares novos.

Minha opinião sobre essa fase é que isso tudo é muito normal e faz bem. Temos muita energia para gastar, vemos muitos profissionais em que a gente quer se inspirar, muita vaga de emprego pipocando e quando olhamos pra gente, temos um portfolio com 2 trabalhinhos… A fase da paixão louca é necessária.  Por um tempo. Tempo esse em que você explode em ideias, entra no mercado, desenha o seu caminho e transforma enfim, sua paixão em amor.

Mas o problema maior não está na fasa da paixão, porque ela tem seu tempo de duração. O problema está na fase do relacionamento.

 

charles chaplin tempos modernos

 O relacionamento obsessivo

A partir do momento em que sua relação com a profissão está mais madura, algumas coisas tendem a mudar. Você aprende que cliente e atendimento também têm opinião válida, que nem todo cliente tem verba para bancar projetos psicodélicos, que dizer “não” para alguns freelas é a melhor coisa que você faz, entre outras coisas. Nesta fase, você fica mais seletivo e, comparando com o relacionamento, prefere trocar a balada pelo restaurante à luz de velas.

Porém, tem muita gente que não consegue diferenciar este momento do período inicial, e quer sair pra boate e jantar à luz de velas ao mesmo tempo, metendo os pés pelas mãos. Seria algo como cobrar do seu namorado um buquê de rosas vermelhas todos os dias. É exigir muito, não é?

Pessoas se prejudicam por causa de excesso de trabalho, a fim de conseguir acumular o máximo de dinheiro pegando freelas adoidados, ou o máximo de status participando de todos os concursos, querendo loucamente ter o nome na capa da revista famosa. Designers adoram dizer que amam café com Coca-Cola, que viram noite a semana toda, que o trabalho consome demais e até colocam nos seus portfolios que são workaholics… Mas até que ponto isso é motivo de orgulho?

Uma vez ou outra para um projeto que realmente valha a pena, beleza dormir às 3 da manhã. Mas seja seletivo para saber com o quê você gasta seus esforços, para não perder seus momentos preciosos com sua família, marido, esposa, filhos, amigos.

Mas talvez você diria: “mas eu não tenho tempo nem de pegar um freela ou investir num projeto pessoal, pois a empresa em que eu trabalho me faz ficar até as 2 da manhã todos os dias!”. Bom, esse é um outro papo para uma longa discussão, pois empresa que acha válido explorar o funcionário em troca de pizza na madrugada está desperdiçando tempo de descanso necessário para a criatividade. Sabe o conhecido ócio criativo? Sim, ele existe. Mas já que tocamos no assunto, fica um link interessante para você mesmo julgar.

 

casamento Lego

O casamento ideal

Como diz o subtítulo, existe o casamento ideal. Não o perfeito. Aliás, um casamento pode ser perfeito mesmo tendo suas imperfeições. Ok, papo de maluco. Mas veja só, você pode trabalhar numa empresa, manter um blog, pegar freelas, dar atenção à sua família, fazer uma atividade física (ninguém merece ficar 20h sentado) e ainda ter um tempo pro lazer. Você vai me xingar, achar que eu não faço nada da vida e perguntar “COMO?!”.

Como eu te disse, um casamento pode ser perfeito na medida em que você define o que é perfeição. Eu não disse que você podia fazer tudo ao mesmo tempo. Só disse que podia. Com planejamento e muita paciência, as coisas podem sair muito melhores do que se acontecessem no estilo “workaholic”. Algumas dicas:

  • Use o caderninho. Tem um projeto pessoal muito irado e está sem tempo de fazer? Calma. Anote isso tudo, documente. Aguarde um tempo, deixe amadurecer. Quando a poeira abaixar de um outro lado, você pode ressuscitá-lo. Exemplo: acabou um freela, dê um tempo até pegar outro para se dedicar ao seu projeto.
  • Fique em Standby. Chegou sábado e domingo? Desligue um pouco do trabalho. Melhor distribuir suas horas durante a semana (mesmo dormindo um pouco mais tarde, mas sem exageros) e ter tempo para ver o sol com o namorado, com os amigos, com o cachorro.
  • Ambição x sonho. Ir atrás de grana e fama precisa ser feito de forma equilibrada. Já ouvi dizer que não é você que vai atrás delas, mas elas vão atrás de você. Claro que se você não fizer sua parte, nem uma nem outra batem à sua porta. Mas o que entendo dessa frase é que o motivo do seu trabalho deve ser o sonho e não somente a ambição. Cuidado para não se tornar um designer superficial que valoriza mais um iPad do que um amigo.
  • Fermente suas respostas. Uma proposta de emprego na qual o salário é quase o mesmo mas você será o ultra art director senior of the world com apenas 20 anos? Cuidado, amigo. Pondere as responsabilidades, veja se você realmente se considera apto para a vaga. Antes de dizer sim, pergunte os detalhes: trabalha fim de semana, como é a equipe, que funções você vai exercer? Às vezes, atrativos demais que massageiam seu ego podem ser uma cilada, Bino!

Pessoalmente, tive minha fase workaholic, da  paixão extrema e sem limites, quando curti uma gastrite “boa” e momentos com olheiras de panda no espelho. Mas me casei com o Design e agora estamos curtindo nosso relacionamento perfeito na medida do possível. Estamos apaixonados, mas com uma paixão contínua, mais conhecida como amor. Os projetos continuam, os sonhos também, mas como mamãe sempre diz, “cada coisa a seu tempo”.

 

Fonte da imagem em destaque: link.

 

Letícia Motta

Designer gráfico com experiência no mercado há mais de 15 anos, atua nas áreas de design gráfico, digital design e direção de arte. Bacharel em Design, com extensão em Coolhunting e MBA em marketing digital. Fundadora do estúdio leticiamotta.com.

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