O que motiva você a fazer o que faz nas horas extras? Um blog, um canal no Youtube, a colaboração voluntária em um projeto. Por quê?
Você trabalha 8 horas por dia em uma empresa. Às vezes até mais. Mas mesmo assim, mantém seu blog e não consegue ficar um dia sem conferir o Analytics. No fim de semana, aproveita para adiantar aquele projeto experimental. Comprou até um domínio e pagou hospedagem para não dar chance de alguém registrar o nome antes de você. Alimenta um canal do Youtube que mostra suas receitas caseiras e até investiu em uma nova filmadora para melhorar os vídeos.
Independente do que você esteja fazendo nas horas “livres”, a pergunta é: por quê? O que te motiva a gastar tempo e dinheiro em algo que você sabe que provavelmente nem dê retorno financeiro?
A cultura da exposição
Foi lendo o livro A Cauda Longa que me deparei com um capítulo chamado “Os novos produtores”. Nele, o autor, Chris Anderson, reflete sobre o poder das multidões e sobre a democratização dos instrumentos de trabalho, que permite que amadores e profissionais tenham acesso aos mesmos meios de produção, e todos possam se expressar.
Em uma análise sobre o cenário digital, Anderson reflete sobre o porquê de existirem tantos produtores independentes ativos na web, até mais do que escritores e especialistas consagrados. E mais, amadores estes que influenciam uma multidão, que confia nas suas opiniões e segue suas recomendações.
Usando blogs como exemplo, Tim Wu, professor da Columbia University, denomina o fenômeno de Cultura da Exposição e descreve:
“A cultura de exposição reflete a filosofia da web, na qual ser percebido é tudo.”
Na era em que a internet é um grande oceano medido em bits e acessos, a reputação vale mais do que o dinheiro. Ou pelo menos, para os amadores, que não precisam sobreviver de seus produtos web.
Provavelmente, ao criar um blog, você não pensou em criar para ficar rico. Ou ainda não conseguiu deixar a vida de proletariado para viver do seu hobby. Mas continua postando e pensando em novas ações, porque ali você tem liberdade para criar, expressar seus pensamentos e ainda pode conseguir algum tipo de reconhecimento neste ambiente completamente democrático.
Realizar uma atividade além do escritório significa que você não gosta do seu emprego?
Claro que não!
Chris Anderson também descreve em seu livro que o modelo colaborativo da internet não depende do retorno monetário tradicional. Como ele cita no trecho denominado de “A economia da reputação”:
A motivação para a criação não é a mesma na cabeça e na cauda da curva…
Na cabeça, onde os produtos se beneficiam de canais de distribuição de mercado de massa poderosos, mas dispendiosos, predominam os aspectos de negócios. Esse é o domínio dos profissionais e, como tal, por mais que os produtores amem a profissão, trata-se também de trabalho e fonte de renda. Os custos de produção são altos demais para que a economia fique em segundo plano em relação à criatividade. O dinheiro impulsiona o processo.Na cauda, onde os custos de distribuição são baixos, graças ao poder democratizante das tecnologias digitais, os aspectos de negócios geralmente são secundários. Em vez disso, as pessoas criam por várias outras razões – expressão, diversão, experimentação e assim por diante. A razão porque o fenômeno assume características de economia é a existência de uma moeda no reino capaz de ser tão motivadora quanto o dinheiro: reputação.
Ou seja, criar um blog no WordPress, Blogger ou Tumblr não custa absolutamente nada para que você faça algo de que não possa desistir depois. Por mais que você gaste alguns “dinheiros”, não se compara com um anúncio comprado em horário nobre na maior emissora do país. Neste último caso, todo mundo tem que ser muito profissional para filtrar e produzir a melhor ideia (teoricamente) para gerar retorno em cifrões.
No seu blog, se você quiser fazer um stop motion usando formigas do pote de açúcar, ao mesmo tempo que isso pode se tornar um viral e fazer do seu canal do Youtube uma fonte de renda, pode também ser algo que só você e sua mãe gostem. Vamos combinar que o impacto é menor.
Quem não conhece o caso desse vídeo, que depois foi até comprado pelo Itaú?
Isso, porém, não significa que a internet seja a válvula de escape para criar conteúdo superficial ou de baixa qualidade. Como dito anteriormente, você na internet é um indivíduo autoral, pode construir a sua reputação. E alcançar lugares mais altos na curva do seu público. E quem sabe, virar essa nova espécie de especialista-amador.
Conclusão: você está na Matrix
No fim das contas, a resposta para a primeira pergunta do post pode ser somente “porque eu gosto”. Você cria vídeos com formigas do pote de açúcar da mesma forma que a sua mãe fazia crochê quando chegava à noite do trabalho.
Mas o que diferencia você da sua mãe nos tempos de hoje é o fato de publicar. Se você publica em uma rede que permite a interação com os usuários significa que você está em busca de retorno ou reconhecimento. Nem que seja pra mostrar pros seus amigos mais próximos e receber um “curtir”.
Logo, meu amigo, a cultura da exposição está mais injetada na sua consciência do que você imaginava. Você já escolheu a pílula vermelha (se você não é dessa época, aconselho clicar aqui).
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